sábado, 22 de março de 2014

Mediano Opúsculo

                                                               www.livrariasaraiva.com.br
O gênero romance policial é um facilitador.Já se entra em campo com audiência ganha; há público cativo e fanático.
Porém, seu maior trunfo é também um limitador, pois os detratores do estilo, muito raramente se curvarão a ele. Afugenta uma grande parcela de leitores, que por falta de gosto, paciência ou afinidade, não se arriscam a enveredar pelos meandros por vezes tortuosos de uma investigação.
"O Chamado do Cuco", apesar do nome infeliz em nossa língua, consegue, ao longo da trama, num crescendo, ir prendendo e enlaçando a atenção do leitor, utilizando somente da habilidade narrativa, o que, convenhamos, não é pouco.
Talvez a construção da personalidade do investigador(Santo Clichê, Batman!) seja um ponto forte. De inteligência e perspicácia acima da média(isso é para nos fazer pensar que se o escritor cria um personagem tão inteligente, decerto ele o é...) e sem grandes atrativos físicos, em nada nos lembra galãs holywoodianos (embora seja certo que se o livro virar filme, será um deles que herdará o papel).
É somente um cara de meia idade, grandalhão, fora de forma e infeliz. Não se destacaria na multidão. Mas é quase verossímil. E perneta, o que não é um fator a desmerecê-lo. Nem a recomendá-lo!
O artifício do pseudônimo a encobrir J.K.Rowling é um ás prematuramente sacado da algibeira e que talvez, nem influa no decorrer da partida. Primeiramente, porque na contracapa o artifício é revelado. e depois, porque a moça já se desnudou em "Morte Súbita", que em nada faz lembrar de histórias de bruxinhos ou vilões sem nariz.
É inevitável, porém, mencionar que a despeito da fluência e habilidade, há clichês que chegam a exasperar. Estão lá o detetive fracassado, dívidas e frustrações amorosas, a modelo vazia e tristemente fútil e o assassino acima de qualquer suspeita. Além do fato de que todo romance policial nos brinda com uma dupla. De Holmes e Watson, passando por Mulder e Scully (esta dupla também uma referência no quesito "tensão sexual não consumada ou acabaria o suspense e a audiência")todos eles andam em dupla.
Não é redundante comentar  que já se leu muitas coisas parecidas, mas há também que se admitir que é possível ler com interesse. Entretanto, é um trabalho convencional, que nada acrescenta ao gênero, apesar de constituir uma simpática iniciativa.
Parece que o drama humano do protagonista poderia render mais que a trama policial em si.
Holmes, Poirot e demais medalhões não perderão o trono. Esta obra não é a salvação da lavoura, nem o pior trabalho da autora. É um bom livro de uma escritora mediana neste gênero, que receosa de se perpetuar no filão infantojuvenil, arrisca-se com desenvoltura e sem genialidade por caminhos que muitos já trilharam mais vezes e melhor.
Leia. Mas não se decepcione. Deixe-se levar pelo fluxo.
É apenas entretenimento. E dos bons. Mas não ótimo!

Um comentário:

  1. Mande essa resenha para as revistas & jornais e se candidate ao cargo de resenhista. Você é fera, meu irmão!!!

    ResponderExcluir