terça-feira, 31 de março de 2015

Um Livro a Ser Conhecido

                                                            ciadoslivros.com.br
               Um dos maiores problemas relacionados à depressão
vem a ser a olímpica ignorância que se tem, e os enormes, graníticos e quase que intransponíveis preconceitos acerca dessa  enfermidade tenebrosa, cujos tentáculos se enredam em um número quase incontável de mentes.
               Sem preferência por qualquer categoria de pessoas, a depressão incapacita, paralisa, ou até mata, e é extremamente grave o fato de se desconhecer quase tudo a respeito dela.
               Andrew Solomon a conheceu de perto. Ela enredou-se como uma parasita mortal e lhe sugou todas as energias e esperanças durante um tempo muito além do desejado, e lhe deu ferramentas para analisá-la, dissecá-la e expô-la.
               As tradições religiosas, quer ortodoxas, quer "alternativas" judaicas(?) preconizavam que conhecer e nomear um demônio impõe a ele uma visibilidade e uma fragilidade que o levariam à derrota. Nomeá-lo seria uma espécie de poder sobre tal espírito , e parece que o autor, ao ser entranhado pela depressão se torna capaz de também conhecê-la por dentro e a expõe à luz de várias formas possíveis: pelo aspecto médico e farmacológico, pelo aspecto psicológico, pelo religioso e joga luz nas facetas quase que incontáveis do fenômeno humano fascinante e desconhecido chamado depressão.
               É um livro humano. Por vezes exaustivo, obcecado com detalhes, beirando as raias do enfadonho, o equilibra com erudição, pesquisa e uma brutal sinceridade. Poucos exibem as próprias fragilidades com espírito tão desarmado. Talvez o defunto Brás Cubas o tenha feito, mas Solomon é escritor, intelectual, inserido na vida em sociedade, e decerto superou a vã-idade, aquela do Qoohelet , ou Eclesiastes, que poetiza :" Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, tudo é vão, é correr atrás do vento". Humilhado pela tortura indigna da depressão, talvez nada tenha lhe restado a ocultar ou preservar.
               O livro , lançado em 2000 não esgotou sua capacidade de alerta, de de certa forma dar um toque poético aos cárceres infernais da enfermidade, e de maneira alguma é datado ou superado em sua profunda análise.
               Se for adquirir um só livro neste ano, que seja este.
               Nick Drake, um poético, melancólico e depressivo artista do século passado, vencido pela depressão, encerra bela e tristemente essa postagem.

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