Século XXI, Era da Informação, tecnologia a todo vapor, estado com alto IDH, um cidadão(?) autoconfiante, dono da verdade, humilha um haitiano que faz um trabalho que ele, o branco, bem nutrido e bem nascido (?) não faria nem que precisasse.
Confesso que já caminhei por aquelas plagas, e presenciei diálogo de teor semelhante, preconceituoso e arrogante, em um ônibus. Senhora caucasiana, olhos claros e sotaque europeu de quem nasceu aqui, mas era filha de estrangeiros, apontava acintosamente para um nordestino, e bradava indignada:
-"Olhem só, mais um deles, invadindo nossa cidade, roubando nossos empregos e vivendo sem licença no que é nosso."
Já fui jovem e mais arrogante, e respondi pelo colega nordestino:
- Se fôssemos seguir seu raciocínio, teríamos impedido seus antepassados que atravessaram o Atlântico quase mortos de fome, perseguidos pelo Adolfinho do Bigode, ou fugitivos de alguma limpeza étnica de se estabelecerem em nossa terra, que afinal de contas não é nossa, porque só a usamos enquanto vivos. Teríamos expulsado aqueles branquelos, esquálidos e de fala enrolada. Mas não, nós os acolhemos, e nos enriquecemos com sua presença, sua cultura e seu trabalho. Tenha a dignidade de se perceber bem vinda aqui nos trópicos, e respeitar o moço que pelo menos é descendente de alguém que nasceu aqui e dividiu o país com vocês!
O frustrado "hater", robusto, agressivo e cagador de regras se esquece de que falou com um ser humano, que o serve com humildade e doçura, e tem o direito de viver e trabalhar no país que o acolheu e que decerto acolheu o antepassado do raivoso pitbull de passeata, quer seja português, espanhol, polonês ou do Turcomenistão.
O que nos leva a pensar que a pregação de ódio que nos divide enquanto país, e que é insistentemente divulgada pela mídia, está produzindo frutos que nos aproximam do pensamento xenófobo e preconceituoso dos skinheads ou da Klu-Klux-Klan.
Lamentoso, diria Toninho Cerezo!
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